terça-feira, 28 de abril de 2009

Tic-Tac

Tic – Tac, tic-tac. O barulho irritante do despertador sobre a mesinha de cabeceira há muito lhe roubava as forças. Queria correr, livrar-se do intimo som das batidas de seu coração; mas era fraca, sensível, carente. Resolveu não mais lutar, mas transformar o eco em música. Num primeiro momento titubeou, dissolveu-se em notas, desistiu. Tentou novamente, num ritmo sincronizado, breve, quente. Foi ao banheiro, molhou-se, olhou sua aparência no espelho, ela jamais voltaria. Incontáveis eram os minutos, as horas, os dias. Buscou concentrar-se em algo, mas ela sempre lhe voltava a cabeça. Fez um café, colocou uma boa dose de bourbon e sorveu de uma só vez. Tentou dormir, mas o sono não vinha, mexia-se na cama, até que finalmente o cansaço lhe venceu. Teve um, dois, três sonhos, todos povoados por ela, sempre ela. Acordou de sobressalto, quando finalmente o telefone tocou. Era ela, só ela. Dizia pra esperá-la as duas horas no aeroporto, portão 17, ela estava chegando. Tomou outro gole de café, desta vez puro, acendeu um cigarro, e sorriu. Sorriu de tanta felicidade, como há meses não sorria, gargalhou, entrou em frenesi e chorou. Lágrimas de perdão, de saudade, de veneração, de felicidade. Tomou um banho, vestiu aquele jeans rasgado, sua suéter preferida, e as sandálias de que ela mais gostava. Perfumou-se, soltou os cabelos. Desceu 9 andares de escada, parou na galeria do edifício comprou uma farta caixa de chocolates. Deu sinal para um táxi, e rumou a seu destino. Prestes a chegar ao portão 17, viu-se a contemplar um monitor de tv, que em claro e bom som anunciava o noivado de Patrícia e Ricardo, para esta noite, no hotel Glória. Sentiu-se humilhada, traída, enganada. Apagou. Acordou ao som de sirenas, tumulto, uma babel de vozes. Luzes vermelhas, piscantes.
Havia uma ambulância, ela estava dentro dela. Fora uma voz chamou sua atenção: Patrícia. Viera buscar-lhe, dizer que nada daquilo era real . Patrícia olhou para ela, beijou-a na face, sorriu incoerentemente, e pediu perdão. Apenas isso: perdoa-me. Foi tudo. Depois disso virou-se e foi embora, pros braços de Ricardo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário